O ENIGMA DOS DISCOS VOADORES
(De: Jacques e Janine Valee, 1979, global editora. – Prefácio de J. Allen Hynek).
Qual seria a responsabilidade do cientista ao deparar com observações que não parecem ser apenas um desafio mas muitas vezes uma afronta à ciência? Como livrar-se dessa responsabilidade? O fenômeno UFO apresenta-nos tal problema. Para a maioria dos cientistas que não tem conhecimento do assunto, a não ser através de especulações da imprensa popular, essa é uma área “intocável”. “Discos voadores”, decerto! – produto de mentes imaturas, imaginativas ou até mesmo desequilibradas, o “playground” dos pseudo-cientistas e dos quase místicos, o refúgio dos excêntricos.
Será que é verdade? Claro, se forem aplicados princípios científicos, todos nós defenderemos com vigor, é preciso tempo para investigar o assunto com cuidado – para investigar e examinar. Mas tempo é exatamente o que os cientistas de hoje – em alguns aspectos as pessoas mais ocupadas do mundo – não têm! Quem pode passar o tempo vagueando através de histórias aparentemente tolas, histórias extravagantes, quimera e lengalenga, quando tantas coisas urgentes exigem a atenção imediata do cientista?
Como astrônomo, provavelmente nunca teria tomado conhecimento do assunto se não tivessem me pedido oficialmente para fazer tal coisa. Nos últimos 18 anos tenho agido como consultor científico da Força Aérea dos Estados Unidos sobre a matéria de objetos voadores não identificados – UFO’s. Como consequência de meu trabalho, nos volumosos arquivos da Força Aérea e em maior proporção nas investigações pessoais de diversos casos intrigantes e entrevistas com testemunhas de ótima reputação, há muito tempo tomei consciência de que o assunto UFO não pode ser repudiado só porque é considerado simples absurdo. Absurdos ocorrem, não há dúvida, e identificações errôneas de objetos conhecidos, que muitas pessoas honestas relatam como UFO´s. Mas não há um “sinal” no “barulho”, uma agulha no palheiro? Não seria, exatamente, nossa função tentar isolar o verídico do absurdo? Através do trabalho cauteloso, em toneladas de pechblenda, Madame Curie isolou uma pequena quantidade de rádio – mas a importância daquela minúscula quantidade fez o mundo tremer.
Cheguei à conclusão (falando agora pessoalmente e não na qualidade de oficial), depois de ter trabalhado muitos anos com “toneladas” de relatórios, que existe um sinal, um “rádio” na “pechblenda”, esperando para ser extraído. Os autores desse livro chegaram à mesma conclusão através de um caminho um pouco diferente. Se a validez científica na totalidade do fenômeno UFO provar ser um sinal físico ou psicológico – ou até mesmo um fenômeno até agora desconhecido – será sob todos os aspectos um desafio à ciência.
Talvez eu devesse ter falado antes, 18 anos é muito tempo. Mas é necessário mais provas para que uma idéia num campo revolucionário seja aceita, quer seja evolução biológica, relatividade ou mecânica quântica; muito diferente do que quando simplesmente se dá mais um passo num campo científico aceitável. Além disso, astrônomos estão entre os cientistas mais conservadores. A sua percepção de tempo é tão grande que eles naturalmente, esperam o momento propício para propor ou aceitar idéias revolucionárias, principalmente se estas forem consideradas sensacionalistas para a imprensa e para o povo.
Não obstante, recentemente fui censurado por corresponder com pessoas cuja integridade respeito, acusado de ter fracassado em chamar a atenção de meus colegas sobre a importância dos dados da força aérea a respeito dos UFO’s. Se for necessário qualquer defesa, em vista da natureza explosiva e controversa do assunto, esta seria, sem dúvida, de que eu chamei a atenção para o constante crescimento de relatórios feitos por pessoas inteligentes de diversos países. Em 1952, perante a Sociedade Óptica Americana ressaltei a natureza importante de certos tipos de relatórios sobre UFO’s (artigo publicado no Journal of the Optical Society of America, em abril de 1953).
Além disso, permanece o fato de que durante anos tenho dedicado pessoalmente parte de meu tempo a esse assunto, ato este que seria irracional se não sentisse que valesse a pena ser examinado. Há muito que estou consciente de que o fenômeno UFO é global e tem capturado a atenção de muitas pessoas racionais. Inúmeros cientistas têm me contado, em particular, de seus interesses e suas disposições para maiores investigações do problema.
Uma investigação científica torna-se possível quando o fenômeno a ser estudado apresenta padrões e regularidades, quando é um assunto para classificação. Os autores mostram que um sistema de classificação (o início de muitos ramos científicos) do fenômeno UFO é possível e, de fato, cada tipo identificado mostra um padrão de frequência diurno diferente. Seu catálogo com 500 casos deveria ser, particularmente, do interesse dos cientistas. Não adiantaria traçar um paralelo com os primeiros catálogos de fontes de radiação eletromagnética: a grande maioria das entradas foram oticamente não identificadas; somente métodos mais avançados de análise e observação revelaram que algumas delas era radiogaláxias e outras eram o novo enigma, fontes quasi-estelares. O atual catálogo de casos UFO consiste, com raras exceções, de itens não identificados; alguns querem saber se o paralelo com o catálogo de fontes de radiação eletromagnética persiste. Certamente, nenhum progresso pode ser feito sem estudo científico. Como os autores mostram, os cientistas “cobertos de dignidade” têm, com frequência, recusado a estudar os relatórios. A verdade é que muitos dos meus colegas que despojaram-se de suas dignidades o suficiente para darem uma boa olhada nos relatórios, juntaram-se à crescente fila de cientistas perplexos: em particular, demonstram sério interesse em relação ao fenômeno, mas publicamente, escolheram, como o assunto em si, permanecer não identificados, relutantes em exporem-se ao escárnio e gracejos que acompanham o assunto. Esse livro será de grande valor para eles em particular, e para todos aqueles que fomentaram o espírito verdadeiro de Galileu. Eles buscam e procuram, examinar até mesmo aquelas idéias que parecem fantasiosas e estranhas, pois sabem quão estranho e fantasioso o termo “energia nuclear” teria sido para um físico há 100 mil anos atrás. Estão prontos a aceitar um novo desafio à ciência.
J. Allen Hynek
Presidente, Departamento
de Astronomia, e
Diretor, Observatório
Dearborn, Northwestern
University