Wilson Geraldo de Oliveira
A origem do loop
Há um elemento de causalidade, no Porquê não conseguimos chegar a respostas positivas para 6% dos casos de OVNIs?
Segundo Hyneck, não foi possível encontrar respostas para a natureza de 6% dos casos de OVNIs (1). A situação fica mais evidente com o reforço de Jacques Valée ao argumento: “… tive acesso aos arquivos da Força Aérea dos EUA e fiz um trabalho em cima do Projeto Blue Book, revisando os métodos estatísticos empregados. Revisei nada menos do que 11 mil casos acumulados no projeto, dos quais 20% eram totalmente inexplicados”.(2)
As pesquisas francesas desde 1951 também apontam casos não explicados, assim como vários outros países. E os esforços para se alcançar explicações seguem os mesmos métodos, na esteira do mesmo modelo científico.
Mas, quando falamos de respostas, falamos de respostas a que perguntas? As mais comuns são: O que é isso? de onde isso vem? O que isso está fazendo aqui? Resumindo e considerando um ordenamento lógico mínimo: qual a natureza disso?
É fato que não encontramos respostas? ou
É fato que não aceitamos as respostas sugeridas pela investigação?
Uma categoria indigesta
Se isso nos confunde talvez as duas coisas aconteçam. Embora muitas vezes fujamos inclusive da formulação correta das hipóteses explicativas. Porque há casos em que não encontramos e há casos em que não aceitamos, sequer, indícios das hipóteses que poderiam nos levar a respostas. E isso acontece desde que houveram os projetos de pesquisa Estadunidenses, iniciados na década de 1940, a partir dos quais, surgiu essa categoria indigesta, a categoria OVNI.
Então voltamos à pergunta: porquê não conseguimos chegar a respostas claras para 6% dos casos? Muitos dirão: faltaram elementos de comparação! ou a natureza fugidia do fenômeno não possibilitou um acompanhamento e controle de processos investigativos in loco que confirmasse hipóteses! ou ainda, o fenômeno, além de violar certas leis da física, contraria o sentido intuitivo dos sólidos e volumes, ele não se deixa controlar, não se deixa pegar, é inteligente e demonstra ter vontade própria. E isso tudo é verdade.
Ora, se já não são muitas as afirmações e adjetivações acerca da natureza desse “fenômeno”? Em que circunstâncias objetivas as pesquisas foram e são interrompidas? Porquê? É importante responder, porque parou? A ciência se esgotou enquanto método? Claro que não.
A ilusão do controle científico
Pode-se dizer que lhe faltara ferramentas para controlar os 6% dos fatos colecionados. Mas, que o método científico não foi eficiente o suficiente para ampliar as análises não parece razoável. Ou, ainda, que não possuíam elementos circunstanciais que pudessem explicar e detalhar certas motivações do “objeto”. Esta última alternativa pressupõe o reconhecimento da autonomia do outro em não se deixar controlar. Em não aceitar, portanto, os termos da relação proposta pelos condutores do método de pesquisa.
O absurdo dessa situação é a criação de uma categoria eternamente provisória dentro do modelo científico vigente de então. Trata-se de uma categoria que travou, convenientemente, o processo de pesquisa em curso e continua a travar.
É interessante observar a persistência da loucura, nas palavras de J.Allen Hynek e do tradutor de seu artigo o Prof. Alberto F. do Carmo:
“Eu estava, de modo “quadrado”, nas fileiras daqueles que estavam certos que os relatos de discos-voadores (como eram então chamados os UFOs) eram simplesmente uma “loucura” que, como todas as modas passageiras, bem depressa seguiria seu curso normal. Ainda assim, os relatos têm provado que é uma “loucura” de longa vida; três décadas se passaram (NT: artigo de 1981) Logo, hoje: 6 décadas, ou 64 anos), (artigo traduzido em 2015) e ela persiste e em muitas áreas do mundo.”
A análise é normalmente comparativa.
A reflexão foi a ferramenta que mais se utilizou e ainda se utiliza. Penso eu, que às técnicas de observação e registro, seguem-se, concomitantemente, o método comparativo, dedutivo ou indutivo e a estes, acompanham sempre, a reflexão.
Uma reflexão dirigida por métodos e técnicas científicas. Lembrando que, partilho da ideia de que nenhum método é isento de propósito, de intencionalidade, de condicionamentos e ideologias dos pesquisadores e envolvidos.
Estes elementos, que caracterizam a ausência de neutralidade, podem estar presentes no fato de não encontrarmos ou não aceitarmos respostas para a natureza do fenômeno. Decorre daí, por exemplo, a decisão de interromper as pesquisas, por considerar que o fenômeno não interferia ou não colocaria em risco a segurança nacional dos Estados Unidos. O fenômeno no entanto continua aí. Ele é portanto, afirmativo, mais significativo do que a segurança nacional Estadunidense.
Se é uma “loucura”, é como diz Hynek, “de longa vida”, uma loucura persistente. Merecedora de investigação igualmente persistente. Se as respostas alcançadas à época foram parciais, intencionalmente ou não, o que podemos dizer acerca de avanço nas pesquisas, desde então?
Não interfere na segurança de quem?
À época, uma das respostas, a de que o fenômeno não interfere na segurança nacional, serviu, infelizmente, para interromper a pesquisa. Ou seja, as respostas às questões mais inquietantes relacionadas à fenomenologia UFO, e que estão nos 6% de ocorrências, embora estudados, não tão exaustivamente ao que parece, não puderam ser explicados naquele momento porque não interferiam no sistema de defesa Estadunidense.
Do ponto de vista civil, no entanto, não poderiam ter sido esta a motivação suficiente para a interrupção das pesquisas, pelo contrário. Mas o argumento militar de que o fenômeno não interfere na segurança nacional, foi preponderante. Levou à interrupção e também apontou o desprestígio com o qual o meio científico deveria tratar o tema. Excluiu-o quase que totalmente do interesse dos cientistas. Estabeleceu-se uma censura global a este saber, seguida por todos os Estados Nações.
Assunto escorregadio no meio acadêmico
Os estudos acadêmicos no Brasil mostram um, relativamente pequeno, número de teses e dissertações relacionadas ao tema. A maior parte delas na área de humanidades. Na área das exatas ou ciências da natureza, o assunto é percebido como escorregadio, o que os mantêm mais distantes. Além da censura global mencionada acima ou influenciado por ela, porquê o mundo acadêmico, em especial as ciências exatas ou da natureza mantêm essa percepção?
A Professora Ana Rute Pinto Brandão, ao falar da repercussão e da pretensão do positivismo na Europa do sec XIX nos aponta um marco importante para a compreensão do que aconteceu com a metafísica e pode estar acontecendo também, em relação a ufologia. Talvez, esse distanciamento se explique, por conservar, ainda hoje, uma postura positivista excludente. Ou seja, um problema que se repete ou que persiste em pleno séculos XX e XXI, com muita semelhança. Diz ela:
“Baseado no enorme avanço que as ciências naturais vinham conquistando, o positivismo vai encontrar nessas ciências o único método de conhecer digno de confiança, qual seja: a construção de leis que possam explicar os fatos. A pretensão do positivismo foi estender tal método para os estudos humanos e sociais. O que significa dizer que os fenômenos humanos e sociais seriam, assim como os fenômenos naturais, submetidos a um único método científico. O positivismo, portanto, vai postular uma unidade metodológica das ciências. Em razão dessa positividade científica, a metafísica, por não tratar do conhecimento experimental, começa a ser altamente excluída da discussão sobre o conhecimento.” (grifo nosso). (BRANDÃO, 2011)
Embora a condição de estudo do fenômeno UFO possa se assemelhar à condição da metafísica do sec XIX é importante observar que a persistência dos fenômenos, (a persistência: dos UFOS, da censura dos Estados Nacionais, do positivismo científico) apontam-nos muito mais para a velha necessidade de ampliação e aprofundamento do método científico, de abordagens e procedimentos inovadores, no sentido de incluir a temática e superar essa condição de exclusão. De fato, exclusão é o que aconteceu com as pesquisas em âmbito oficial desde a década de 1960.
Entendo que estão aí alguns elementos de causalidade que podem apontar a natureza complexa da questão. Estes elementos estão por trás, ou subjacente à resposta à seguinte pergunta : porquê não conseguimos chegar a respostas objetivas para 6% dos casos?
Nós observamos, registramos e verificamos certos efeitos, mas não ampliamos a compreensão da natureza dessa fenomenologia.
Registramos luzes e quando interagimos com elas, nossos aparelhos, ou não registram os efeitos de forma clara, na sua completude, ou registram efeitos que nós não vimos a olho nu, o que nos causa estranheza. Nós sofremos efeitos da radiação em nosso corpo mas muito raramente conseguimos medir essa radiação e determinar sua natureza causal. Ao remontarmos a determinadas cadeias de eventos deveríamos chegar a algo compreensível, explicável. Para aquele “resíduo” percentual de 6%, altamente significativo. Isso não acontece.
Registramos formas que voam, que se locomovem no espaço aéreo, as mais diversas, algumas contrariam totalmente qualquer entendimento aerodinâmico conhecido e comum em nossa atmosfera. E quando detectamos alguma solidez nestas formas o seu comportamento também extrapola o nosso entendimento do comportamento dos sólidos e volumes.
Aos sons, também diversos, associamos elementos de nosso cotidiano, mas podem nada ter a ver as correlações que fazemos. A um som metálico, não acompanha comprovadamente quaisquer artefatos metálicos. Outros sons são totalmente estranhos aos nossos ouvidos. Zumbidos percebidos, podem ter origem interna ou externa ao nosso aparelho auditivo. Mas, será que nada disso nos está a impulsionar à necessária mudança paradigmática?
Vale lembrar que o conjunto das luzes, formas e sons inteligentes percebidas, registradas e descritas, representam apenas uma pequena parte da histórica e assombrosa experiência humana frente ao desconhecido.
Podemos pensar que do conjunto de elementos associados ou relacionados ao fenômeno, conseguimos compreender 94% deles como efeitos naturais, cujas causas puderam ser identificadas. E isso parece bom! Mas porque para 6% deles não conseguimos alcançar suas causas?
Se acrescentarmos outros elementos, humanoides, p. ex. além de luzes, formas e sons, não será apenas um tatear no escuro, teremos um delírio no escuro. Certos cânones da ciência, não admitem sequer pensar, em outra forma humana ou aparentemente humana relacionada à fenomenologia UFO.Quando pensamos na experiência que envolve o corpo. O nosso corpo e o outro corpo. As nossas naves e as outras naves. Nesse campo o nível de subjetividade é imensamente maior. O que parece é que nós não somos capazes de reconhecer esse outro com as categorias conceituais adotadas para a compreensão de nós mesmos e de nosso semelhante terrestre. Há uma impossibilidade de nominar. Como se a experiência ainda fosse intangível. Como se ela apenas se insinuasse no horizonte humano. O verbo é pobre e a realidade está sempre um passo adiante? Falta alguma chave?
Vamos entender que, luzes, formas, sons, corpos, naves e movimentos são categorias do entendimento insuficientes e que nós as utilizamos por nos faltar categorias conceituais mais eficientes. Mas o desconforto que sentimos ao tentar narrar os fatos, por comparação, mostra que necessitamos de categorias mais completas ou eficientes. Seja o que for, isso a que chamamos de “categorias mais completas ou eficientes”. Falta algo decorrente de uma experiência interativa, objetiva e que possa ser não delirante. E isto, me parece que passa pela aceitação de algo novo. Ideologicamente novo.
Vivemos um looping por um novo modelo de percepção e interpretação do mundo, que exige estímulos progressivos e que deve exigir recompensas progressivos. Que inclua por exemplo, novas categorias de conhecimento e de pensamento para avançarmos. Esse loop de fato parece existir, e está representado nessa “loucura persistente”, constituindo o estímulo necessário às mudanças em nossos modelos de percepção do mundo.
Referências
(1) http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/281871/1/Santos_RodolphoGauthierCardosodos_M.pdf visto em 28/01/2019. Pag. 211
(2) https://ufo.com.br/entrevistas/jacques-vallee-os-ufos-nao-sao-extraterrestres.html visto em 28/01/2019
HYNEK, J. Allen. “O fenômeno ufo: rir, rir; estudar, estudar”, Technological Review, EUA – julho/1981. Tradução de Alberto F. do Carmo, Para Via Fanzine. Belo Horizonte-MG em 03/04/2015
BRANDÃO, Ana Rute Pinto. “A POSTURA DO POSITIVISMO COM RELAÇÃO ÀS CIÊNCIAS HUMANAS”, revista Theoria – Revista Eletrônica de Filosofia, Volume 03 – Número 06 – Ano 2011, Página 81
RUPPELT, Edward J. Discos voadores: relatório sobre os objetos aéreos não identificados. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1959, p. 92, 100, 164 e 186.
Os resultados da histórica pesquisa ufológica oficial francesa visto em 28/01/2019 no endereço: https://ufo.com.br/artigos/os-resultados-da-historica-pesquisa-ufologica-oficial-francesa.html