UM LUGAR DE VIGÍLIAS UFOLÓGICAS HISTÓRICAS.

Por Wilson Geraldo de Oliveira

Existem muitas motivações para retomarmos essa discussão. Aqui apontaremos apenas algumas. Uma delas está justificada no fato de, em 2017, iniciarmos uma programação de vigílias tomando por base a, assim denominada por Roberto Beck, “Rede Alfa”. Publicamos no https://ufologico.com.br uma minuta de projeto, com previsão de algumas ações de revisitação dos 11 pontos de vigília enumerados na imagem acima.

Fizemos várias visitações em vários dos pontos da Rede Alfa até final de 2019. Em 2020 veio a pandemia e suspendemos nossas programações de vigílias. Cada um destes pontos da rede merece uma publicação à parte. Mas vamos nos ocupar aqui do primeiro ponto enumerado por Beck.

Podemos até aceitar que seja um problema menor o fato de termos um erro de edição ou uma afirmação fora de contexto em uma determinada publicação. Mas quando isso passa a dar margem a confusão para os leitores e para nós mesmos, ficamos apreensivos e inquietos.

Refiro-me a citação ou afirmação feita na pag. 44 da obra “Ufologia à luz dos fatos” do ufólogo Roberto Afonso Beck, relativa à localização do primeiro ponto da Rede Alfa. Uma área muito frequentada outrora por ufólogos e suas equipes de vigília ufológica. Sua citação diz “’Alfa 1: Km 19 da BR 251, hoje km 64’ — um dos locais mais ricos em fenômenos luminosos depois da Fazenda Vale do Rio do Ouro.”⁽¹⁾ O que nos deixa inquietos  e motiva-nos a escrever sobre é a parte que diz “...hoje km 64...”

Km19 DF ou Km 64 … ?

Certamente que qualquer ufólogo ou curioso sobre o fenômeno UFO, que queira fazer uma vigília ufológica, nesse local, poderá tentar encontra-lo utilizando outras referências. Afinal trata-se de um local no entorno do Distrito Federal, amplamente citado em outras publicações. No entanto, eu tentei e outros colegas de equipe também tentaram e não pudemos encontrar o citado KM 64 (Km 19 da BR 251, hoje km 64). O que existe hoje na BR 251 em direção a Unaí é o KM 19 e não o KM 64. Parece simples de resolver, não existe km 64 e ponto final. Mas talvez mereça algum esclarecimento.

A BR 251

A BR 251, no DF é classificada como rodovia transversal. Corta o DF no sentido Noroeste-NO <> Sudeste-SE. Oficialmente ela é a Rodovia Júlio Garcia. Ela se estende do estado de Mato Grosso (Marco inicial – 0) ao Estado da Bahia (Marco final), e nesse sentido é feita sua marcação quilométrica. O total de sua extensão é de aproximadamente 1515,2 km ⁽²⁾ .

A Noroeste, em direção ao Mato Grosso, vamos identificar a BR 251 na direção da chapada dos Guimarães e a Sudeste ela passa pelo DF, cruza o Estado de Goiás, entra em Minas Gerais e segue no sentido da cidade de Montes Claros-MG.

Um pouco mais acerca da BR 251 no Distrito Federal.

Galeria 1 – Marcos, Divisas e distâncias de Brasília

É uma rodovia que ao cruzar a linha de divisa, entre os estados de Goiás e Distrito Federal, sentido Brasília, a quilometragem reinicia a partir do marco 0 (zero). A rodovia vai margear a cidade de São Sebastião no DF, passará pela Colônia agrícola Aguilhada, Núcleo Rural Córrego das Antas, Região de chácaras próximas à Cachoeira do Tororó em direção à DF 001 ou EPCT (Estrada Parque do Contorno) também chamada de Anel Viário de Brasília. Segue em direção à Estação de rádio da Marinha, até cruzar a EPIA (Estrada Parque Indústria e Abastecimento) que está sobreposta à BR 040. Daí, segue na direção do Balão do Periquito próximo do Gama e às cidades Recanto das Emas e Samambaia em direção à BR 080 que liga Brasília a Padre Bernardo.

Vale lembrar que conforme previsto no Sistema Rodoviário do Distrito Federal, as Rodovias Estaduais Existentes, coincidentes com Rodovias Federais são denominadas de Rodovias Estaduais Coincidentes e permanecem com a numeração original das Rodovias Estaduais ⁽³⁾ .

Nesse sentido, a partir da divisa Distrito Federal e Goiás, deixa de ser a BR 080 e volta a receber o nome de BR 251 buscando sua origem no Estado de Mato Grosso, sentido contrário ao que nos interessa nesse momento.

Considerando as sinalizações atuais, as distâncias a partir das divisas dos Estados de Goiás e Distrito Federal sentido Brasília são: vindo de Unaí-MG, 70 km e vindo de Padre Bernardo-GO, 62 km.

Saindo de São Sebastião-DF em direção à Unaí

Galeria2 – de São Sebastião km34 à fazenda do SR. Guedes no km19 DF

Vamos conhecer alguns marcos da BR 251 começando pelo trecho entre a DF 473, entrada a leste de São Sebastião-DF, em direção à divisa do Distrito Federal e Goiás, sentido Unaí. Iniciamos pelo KM 34 em sentido decrescente, portanto, deixando São Sebastião pela DF 473 em direção à Unaí e em direção ao marco 0(zero) da BR 251 na divisa do DF com GO. Ao seguirmos a marcação de quilometragem em sentido decrescente a partir do km 34, vamos encontrar o KM 19 numa região de aclividade da rodovia, margeada por saliências bastante acentuadas de ambos os lados. À direita uma ribanceira em sentido ascendente e à esquerda em sentido descendente apontando um amplo vale em direção à Brasília.

Antes de alcançar o marco KM 018 no final da subida, encontramos a margem direita aberta sem ribanceira, no mesmo nível da pista. Há alí, um pouco afastada da margem, uma porteira de tubos de ferro, fechada. À época de Roberto Beck, década 1960/70, certamente, não havia tanto lixo depositado nas margem da rodovia como agora. Trata-se de uma área na qual descarrega-se, clandestinamente, lixo e entulhos provenientes do espaço urbano. Ao que tudo indica essa é a região de onde fora “retirada piçarra… para a construção da estrada” conforme relata Roberto. Esse local, também à época, não possuia o cercamento da fazenda que hoje pertence ao Senhor Guedes, Roberto chamava “KM 19”. Nesse ponto foram feitas muitas das centenas de vigílias, conforme relata em seu livro. (BECK. 2006 pag 61).

Dentro da fazenda do Sr Guedes

Galeria 3 – Locais de Vigílias e registros fotográficos diurnos e noturnos

Nos últimos anos, desde 2017, por ocasião do projeto de revisitação da Rede Alfa, não nos contentamos em ficar à margem da BR, no lugar que Roberto chamara “bacias”. Além de poluídas com lixo, elas não oferecem uma visão clara para observação nos dias atuais. Os aterramentos para construção da rodovia devem ter alterado em muito a região impedindo que pudéssemos ter aquela visão privilegiada do vale, a partir de suas extremidades, tal como cita Beck.

Entramos em contato com o Sr. Guedes (atual proprietário da fazenda) em 2017, cujo número telefônico se encontrava escrito numa placa ao lado da porteira. Pedi autorização para acesso e me encontrei pessoalmente com ele na região. Falei de nossa proposta, depois de perguntar sobre o histórico de relatos de Roberto. Ele não tinha notícia desse tempo. Eram outros, os proprietários da fazenda. Mas concordou que fizéssemos nossas vigílias quando quiséssemos.

Até o início de 2020, quando teve início a pandemia da covid19 no Brasil, fizemos 5 visitas e identificamos 3 locais internos à fazenda com boa visibilidade. Duas destas visitas foram diurnas e três foram vigílias noturnas. Em nenhuma delas tivemos avistamentos ou registros de luzes ou quaisquer outros fenômenos que pudessem nos causar estranheza. Fizemos fotografias diurnas da região e do céu noturno . Veja a sequência de imagens nas galerias acima.

A citação de Roberto em relação ao km 19, a expectativa de poder ser como ele diz, “hoje km 64” (2006) nos intrigava. Até a decisão de verificar alternativas que pudessem apontar outro local ou outra forma de marcação da quilometragem na BR 251. Afinal, seria alí mesmo o KM 19 de que tanto falara Roberto Beck? Ou seria em um outro local, o suposto km 64, da mesma BR 251?

Galeria 4 – Serras de Minas na região de Unaí

Em minhas viagens a Minas Gerais, fiz verificações e imagens com a ajuda de meus filhos, Bárbara e Pedro Henrique, os quais estiveram comigo em várias ocasiões.

Vale lembrar que a sequência de marcações quilométricas a partir da divisa de Goiás/Minas no sentido Unaí, segue reiniciando a numeração a partir do km 970, aproximadamente, em sentido decrescente. (os primeiros quilômetros estão sem numeração) De tal forma que o km 903 da BR 251 está localizado em pleno espaço urbano da cidade de Unaí.

Permitam-me comentar, a região de serras nas proximidades de Unaí (Galeria 4) oferecem um contraste maravilhoso com as  extensas áreas planas de monocultura do Planalto Central. E como área de serras nos faz pensar em possibilidades de acampamento para observações noturnas em pontos estratégicos a partir do KM 941 da BR 251-MG.

Km 19 – GO – Fazenda Santa Bárbara

Galeria 5– km 19 – GO, Lagoa/Represa e Sede da fazenda e planície

O que gerou uma certa confusão, a princípio, foi encontrarmos 2 vezes o km19. Um no DF e outro em GO, ambos em direção à Unaí. E nada do KM 64 mencionado. Para quem não conhece os detalhes do sistema de trânsito, como eu, ao ver uma citação de um marco quilométrico que não existe, feita por um amigo, não resta outra pergunta senão, porque?

O KM 19 da BR 251-GO coincide com a região da Fazenda Santa Bárbara. É uma região de terras planas, com plantações de um lado e outro da rodovia, até as proximidades da divisa com o Estado de Minas em direção a Unaí. A fazenda tem produção agrícola diversificada de hortaliças e legumes.

Esta região do Planalto não possui serras. Exceto no trecho entre São Sebastião sito entre KM 34 e o KM 16 da BR 251 no DF e depois só vamos ter um terreno mais acidentado no trecho para Unaí, após a divisa dos Estados de GO e MG. Portanto, são mais de 50 km de planície com plantações agrícolas. A maior parte dessa extensão no Estado de Goiás. Chama a atenção na altura do km 19 da BR 251-GO, em frente à sede da Fazenda Sta. Bárbara, no sentido Leste, uma extensa lagoa resultado do represamento do Córrego da Vereda.

Esta é uma região aberta que, permite a visão de uma ampla abóboda celeste, possibilita observações à distância e oferece a oportunidade para observação de um belo céu noturno face a inexistência de iluminação urbana.

É uma região com ótimas características que facilitam a realização de vigília e observação do céu. Mas, em face das referências do Roberto, nos pareceu mais provável que tenha sido usado historicamente o km 19 no DF. No entanto, fica a pergunta, porque Roberto iria fazer essa afirmação em 2006, data da publicação de seu livro, relacionando-o a um suposto km 64?

Uma hipótese significativa?

Se somarmos as distâncias usadas nas marcações quilométricas dos dois trechos da BR 251 teremos 34km do trecho que vai de São Sebastião (KM 34) até a divisa DF/GO KM 0, mais 34 km do KM34 desse marco de divisa no lado Goiano (esse trecho também se inicia com o KM34) ao KM 0 da divisa GO/MG, totalizam 68km. Essa é uma distância que se aproxima de um suposto KM 64 citado pelo Roberto Beck em seu livro.

Também poderemos somar os 42km do trecho compreendido entre o cruzamento da BR 251-DF com a  DF140 e a divisa de DF/GO, mais os 15KM comprendidos entre o marco KM34 da mesma divisa até o KM19 da BR251-GO e teremos um total de 57 km. Outra quilometragem aproximada que se confunde com o KM19 no Estado de Goiás.

De qualquer forma o trecho  da BR251 que compreende o Estado de Goiás. Portanto, entre as divisas do DF e MG é praticamente todo ele, excelente para observações noturnas.

Se essa for a correlação feita por Roberto, à época, pode ser que tenha existido dois pontos que tenham sido utilizados como locais de vigílias. Afinal, ambos são regiões atrativas e atendem perfeitamente a esse tipo de prática.

O KM 19 da BR251-DF, além de ser um local próximo do DF, o que facilita deslocamentos rápidos, é descrito por Roberto como um local de grande incidência de luzes(OVNIs) à época. Ele menciona a observação de luzes de casas à distância, no Vale, referindo provavelmente, a moradores rurais na direção ao Rio São Bartolomeu; Na mesma direção, refere-se às luzes de Brasília, no horizonte. Estas, só são possíveis de serem vistas diretamente, desse ponto e não do KM 19 da BR 251-GO e não também, de um suposto KM64 que ele possa ter identificado somando certas distâncias. O KM19 no DF, ao que tudo indica era o local frequentado por ele, sua equipe e também pelo saudoso General Uchôa e isso é também de conhecimento público.

Mesmo afirmando, em seu livro, que depois de certa época, após os tempos dourados da pesquisa ufológica com o General Uchôa na região, não havia mais ocorrências, mantivemos a ideia de irmos ao local e assim o fizemos. Pode ser que outras pessoas tenham esse mesmo desejo e está posto aqui algumas informações que podem ajudar de alguma maneira.

Além disso, registramos estes fatos e circunstâncias e os publicamos aqui para facilitar as escolhas de outros investigadores interessados. Embora não tenha sido possível corrigir ou esclarecer totalmente a citação que nos pareceu confusa, a princípio, apresentar informações, correlacioná-las e levantar hipóteses e deixar em aberto esse questionamento para outras contribuições, nos deixa menos inquieto, e aberto à busca de explicação para a informação da forma como foi apresentada na obra do amigo e Ufólogo Roberto Afonso Beck, de saudosa memória.

Referências

(1) BECK. Roberto Affonso, “Ufologia à luz dos Fatos”. Ed. Biblioteca UFO, Campo Grande(MS). 1ª edição, 2006
(2) https://pt.wikipedia.org/wiki/BR-251
(3) Apresentação do SRDF – Sistema Rodoviário do Distrito Federal com a situação da malha rodoviária revisada e atualizada na versão 2019. Visto em 27-04/2021 no endereço: http://www.der.df.gov.br/wp-content/uploads/2020/03/SRDF_2019.pdf